Pice também conhecida como Picê. É uma das Sete Deusas Criadas por Tupã. Ela é a deusa da Poesia, ela foi criada para cria todos os tipos e formas de Poemas e Poesias.
Ensinou aos homens como escrever da maneira correta uma poesia. Contava suas poesias para eles quando estavam triste, para ficarem mais felizes.
Na aurora da Criação, quando mesmo o grande avô Nhanderuvuçu ainda caminhava entre os homens, surgiu uma donzela nascida da primeira brisa do por-do-sol. Ela ia e vinha livremente pelas aldeias, e toda vez que passava, punha nas almas um sentimento arrebatador.
A donzela soprava junto a nuca dos primeiros homens e as primeiras mulheres, e imediatamente eles e elas se punham a entoar cânticos e expressar rimas. Rimas para amar, para rir e para guardar o conhecimento na forma de cânticos sagrados, doutra forma impossíveis de se registrar e transmitir.
Com o tempo, os ñanderu (xamãs e sacerdotes guaranís) entenderam que a misteriosa donzela era uma Nhande (alma sagrada...deusa) surgida da própria Existência, assim como Tupã, Jací e outros dos primevos. Veio para entregar aos homens a poesia, e foi chamada de Picê.
Até que Tupã desapareceu entre as estrelas, entristecido com a maldade dos homens.
No ínicio, a caprichosa Picê encantou-se com os homens de pele branca e com os homens de pele negra que eram trazidos a força. Um tanto confusa, mantinha lembranças turvas de ter soprado seu encanto também entre eles, e de ser chamada por outros nomes. Foi e veio também entre eles, pouco se importando com os horrores da nova era.
Para Picê, aquela mistura lhe foi como uma grande orgia. Mas os séculos passaram e uma tristeza lhe tomou: ao contrário dos guarani, que lhe conheciam, honravam e até presentearam com um nome, o Mundo dos Caraíba lhes ignorava. Quanto mais se poetisava, mais se lhe ignorava.
Isto seu orgulho não podia suportar.
A donzela então ergeu seu refúgio na Cidade do Rio das Almas, o inferno do Anhangá, que os Caraíba chamam de São Paulo. Cheia de amargura, enclausulou-se no saguão de uma outrora gloriosa mansão, na qual noutros tempos empreendiam constantes saraus.
E desde então, vestida austeramente, como uma velha rancorosa, a deusa de aparência jovial passa os dias naquele mansoléu de paredes carcomidas. Entregue a cigarros, chicaras de café e livros, murmura diante de espelhos acerca do oblivio dos homens com relação as poesias que eles mesmos escrevem, após receber seus doces sopros junto a alma.